Kanchha Sherpa, o último sobrevivente da histórica expedição que levou o ser humano ao topo do Everest em 1953, faleceu na última quinta-feira (16), aos 92 anos. Sua trajetória começou cedo, quando, ainda adolescente, deixou seu vilarejo em Namche Bazar para se aventurar nas montanhas de Darjeeling. Foi lá que ele conheceu Tenzing Norgay, que o contratou para a expedição ao lado do neozelandês Edmund Hillary. Kanchha se juntou ao grupo em Katmandu e, sem treinamento formal, conseguiu escalar os mais de 8.000 metros do Everest, tornando-se parte de uma conquista monumental.
Durante a ascensão, Kanchha e os outros sherpas transportavam barracas e mantimentos, enfrentando condições adversas. Ele recordou, em entrevista, que se sentia “o homem mais feliz” ao ver Tenzing e Hillary alcançando o pico. Hoje, a montanha recebe centenas de alpinistas anualmente, e a indústria de montanhismo, que movimenta milhões, depende fortemente do trabalho dos sherpas, que enfrentam riscos imensos, sendo que um terço das mortes no Everest envolve alpinistas nepaleses.
Kanchha também testemunhou mudanças significativas na região ao longo das décadas. Após 20 anos de escaladas, ele decidiu parar a pedido da esposa, priorizando a educação das crianças sherpas, um legado que considera fundamental. Ele fundou uma instituição para ajudar famílias a enviar seus filhos à escola, destacando a importância do acesso à educação. Em seus últimos dias, expressou preocupação com a influência da cultura ocidental sobre os jovens, temendo que eles esquecessem suas raízes e tradições. O impacto de sua vida e trabalho continua a ser sentido na comunidade sherpa, que agora tem mais oportunidades do que nunca.