O livro “Pelé – o Negão Planetário”, escrito pelo antropólogo Antonio Risério, se destaca por não ser apenas mais uma biografia do ícone do futebol. Em vez disso, Risério utiliza a figura de Pelé para refletir sobre a realidade brasileira, abordando temas como raça e identidade no esporte. Essa abordagem é importante, visto que há poucos trabalhos que exploram o futebol sob esse prisma. Embora o livro não alcance a profundidade de obras como “Veneno Remédio”, de José Miguel Wisnik, e “Dando Tratos à Bola”, de Hilário Franco Júnior, alguns ensaios trazem reflexões relevantes sobre a vida e a carreira do atleta.
Um dos textos mais impactantes é “A Escola Brasileira de Futebol”, onde Risério compara Pelé a figuras como o boxeador Muhammad Ali e o bailarino Vaslav Nijinsky, ressaltando a inteligência do corpo em suas performances. Ele destaca como Pelé, um homem negro, se tornou um símbolo de orgulho em um contexto onde muitos jogadores escondiam suas origens. O autor ainda menciona que, embora Pelé nunca tenha feito discursos diretos contra o racismo, sua habilidade em campo ajudou a elevar a autoestima de muitos negros no Brasil e no exterior.
Em “A Questão Racial”, Risério argumenta que Pelé via a luta contra a desigualdade social como algo que afetava todos os pobres, independentemente da cor. O autor também discorre sobre como Pelé lidou com o preconceito racial, revelando um episódio da adolescência em que foi chamado de “preto vagabundo”. Apesar de algumas contradições, Pelé é apresentado como uma figura que representa uma vitória significativa para a negritude.
O livro ainda traz ensaios que discutem a influência de Dondinho, pai de Pelé, e como ele moldou o caráter e a carreira do craque. No entanto, a obra peca pelo excesso de digressões, desviando-se do foco principal em várias partes. O texto se estende por 464 páginas e muitos acreditam que poderia ser mais conciso. Risério também aproveita para criticar a Folha de S.Paulo, alegando censura após uma polêmica sobre racismo.
Se você está interessado em explorar mais sobre a relação entre Pelé e a cultura brasileira, o livro pode ser uma boa adição à sua estante. Para quem quer acompanhar o legado do craque, eventos e homenagens costumam ser anunciados nas redes sociais e canais de esporte.